Visitar Pompeia é algo extraordinário, porque, se por um lado tem um
encanto especial que me fascina, devido às suas ruinas cheias de história, por
outro lado acaba por me fazer sentir um pouco aterrorizada ao pensar naquele dia
trágico em que o maior de todos os senhores, o Vesúvio despertou e decidiu
caminhar pela montanha abaixo levando consigo tudo o que o rodeava, e mostrando
a todos os seus habitantes que este gigante não era apenas, tal como eles
tinham pensado um vizinho calado e amistoso.
Naquela manhã solarenga de Agosto, o sol já se fazia sentir às oito
horas, no entanto, os seus habitantes estavam longe de imaginar o que os
esperava naquele dia 24 que ficaria marcado pela história de um trágico
despertar...
Estávamos no ano de 79 e as ruas ainda estavam desertas devidos às
festas da noite anterior em homenagem a Vulcano, o Deus do Fogo, que
curiosamente viria a marcar ainda mais este acontecimento.
Naquela noite um leve tremor de terra fez balançar o vinho dentro dos
cálices e o mar estava ainda mais agitado do que o normal, no entanto, nenhum
desses sinais foi entendido como um sinal de perigo no meio de tanta algazarra.
O centro da cidade tinha uma parte mais antiga construída antes da
colónia romana habitar esta cidade, e outra parte mais nova com duas ruas
principais que cortavam a cidade nos sentidos norte-sul e Leste-Oeste e as 20
mil pessoas que faziam de Pompeia uma cidade com bastante população, viviam do
comércio trazido pelos barcos estrangeiros, principalmente dos Fenícios que
embarcavam na Baía de Nápoles, com um pouco de tudo, desde macacos africanos,
canela da China, e escravos orientais famosos pelas suas técnicas sexuais.
Mas não só, ricos e pobres, viviam ainda do cultivo das terras, colhendo
sobretudo grandes quantidades de trigo, uvas e azeitonas, que acreditavam terem
saído de uma terra abençoada.
Para eles, a fertilidade das terras era um presente dos Deuses e jamais
desconfiaram que a qualidade deste solo se devia a antigas erupções vulcânicas
do seu vizinho Vesúvio.
Passava um pouco mais das 10 horas quando um forte estrondo foi ouvido,
seguido de um abalo. No horizonte, começou a formar-se uma densa nuvem preta
que logo logo atingiu os 15 quilômetros de altura e se ergueu sobre a cidade
aos seus pés.
A cerca de 30 quilômetros dali vivia Plinio, um velho cientista que
estudava os fenômenos naturais, e sentiu uma enorme curiosidade em observar
este de mais perto para poder tornar real os seus relatos.
Segundo ele, a sua última erupção tinha acontecido em 1800 A.C e não
havia nada a temer.
Assim sendo, Plinio que assistia a tudo isto de longe, decidiu reunir
uma pequena tripulação de nove homens e pôs-se a caminho de Pompeia.
A viagem tinha sido uma péssima ideia, pois, ao aproximar-se, as altas
temperaturas faziam o barco desviar-se obrigando-o a ancorar na vizinha Estábia.
A 24 de Agosto de 79, Gaius Plinius, o seu sobrinho, ainda que
convidado, decidiu não ir naquela embarcação com o seu tio e ficou em casa, em
Miceno, sobreviveu e relatou todos os acontecimentos daquele dia e do dia
seguinte enviando longas cartas ao historiador Tácito que mais tarde foram
publicadas em livros.
Num pequeno enxerto podemos ler:
“O Vesúvio brilhava com enormes labaredas em muitos
pontos e grandes colunas de fogo saíam dele, cuja intensidade fazia mais
ostensivas as trevas noturnas. Podia-se ouvir os soluços das mulheres, o
lamento das crianças e os gritos dos homens. Muitos clamavam pela ajuda dos
deuses, mas muitos outros imaginavam que não havia mais deuses e que o Universo
estava imerso numa eterna escuridão e ao final de 12 horas toda a cidade se
encontrava agora soterrada sob cerca de 4 metros de rochas vulcânicas quando o
pior aconteceu. ”
Em poucos minutos, a ensolarada manhã virou noite e a fumaça do Vesúvio
bloqueou completamente o sol.
Impressionados com a drástica mudança de luz, e o ensurdecedor barulho
que se fazia ouvir, o povo saiu à rua curioso com o espetáculo.
Só que, aquela nuvem negra não era apenas uma simples fumaça, junto com
as cinzas o Vesúvio lançou toneladas de rochas a uma altura tão grande que elas
só começaram a cair minutos depois, atingindo assim aqueles que se tinham
exposto naquele instante.
E enquanto que uns eram gravemente atingidos por uma chuva de pedras e
acúmulo de detritos, outros ficaram em casa a rezar para que todo este pesadelo
terminasse em seguida.
O calor que se fazia sentir era de cortar a respiração e a angustia de
todos aqueles habitantes que se viram encurralados entre o medo de fugir e o
medo de ficar porque, de alguma maneira não tinham por onde escapar era
desesperante.
À escuridão das sombras das nuvens de cinza, juntou-se
o negrume da noite. Por isso, e porque não restassem muitas testemunhas no
local, talvez ninguém tenha visto quando a parte mais letal da erupção se
aproximou. Viajando a uma velocidade superior a 120 quilômetros por hora, uma
avalanche de cinzas e rochas superquentes, com temperaturas que ultrapassavam
os 500 graus, desceu sobre a cidade.
Mais de 300 esqueletos foram encontrados num abrigo de barcos, pois nem
estes tinham sobrevivido devido à onda de calor que se fazia sentir, tendo uma
morte instantânea.
O choque com a onda de calor fez com que os seus órgãos vitais ficassem
paralisados mesmo antes de se darem conta do que estava a acontecer.
Mas isto não terminou por aqui, no dia seguinte formou-se uma nova nuvem
de gazes tóxicos que acabou por matar aos que ainda se resistiam a tal
acontecimento, mudando mais tarde de direção, em direção a Estábia.
Os moradores daquele lugar ainda tentaram atravessar a Baía, mas não
tinham como e o sobrinho de Plinio, que se encontrava em Miceno, escreveu tudo
o que pôde ver e apurar. Os seus relatos eram tão bizarros que foram
considerados lendas até o século 18. Hoje em dia, sabemos que existem erupções
vulcânicas como Plínio contou.
Não se sabem exatamente quantas pessoas morreram em Pompeia, Herculano,
Estábia e redondezas, no entanto a recuperação de alguns dos corpos que hoje
estão expostos quase intactos nos restos da cidade indicam que esse número
tenha rondando entre as 2 mil e 4 mil vítimas.
Dois séculos depois poucas pessoas se lembravam desta cidade e uma nova
tinha sido erguida com o nome de Civitá no mesmo local. E no ano de 1595,
Pompeia foi descoberta novamente por um mero acaso entre os escombros durante a
construção de um aqueduto.
As escavações só começaram em 1748, quando os especialistas perceberam
que alguns dos corpos encontrados ainda pareciam conservar as suas expressões
reais, estavam petrificados. Na realidade, os corpos que hoje podemos ver não
são reais, são apenas moldes feitos através da decomposição das vítimas e dos
espaços ocos entre as pedras encontrados em diversos pontos da cidade.
Os especialistas rechearam esse espaço com gesso, e
assim conseguiram mostrar a posição de homens, mulheres, crianças e até animais
mortos durante a erupção.
Se tiverem a oportunidade de visitar esta “cidade fantasma” que se
encontra a 25km da cidade de Nápoles vão com certeza ficar boquiabertos, seja com as imagens imaginárias ou com todo o entorno
a estas escavações ao final de tanto tempo !!!
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