Pompeia, Itália

By Isabel Pinto - março 01, 2019

Visitar Pompeia é algo extraordinário, porque, se por um lado tem um encanto especial que me fascina, devido às suas ruinas cheias de história, por outro lado acaba por me fazer sentir um pouco aterrorizada ao pensar naquele dia trágico em que o maior de todos os senhores, o Vesúvio despertou e decidiu caminhar pela montanha abaixo levando consigo tudo o que o rodeava, e mostrando a todos os seus habitantes que este gigante não era apenas, tal como eles tinham pensado um vizinho calado e amistoso.


Naquela manhã solarenga de Agosto, o sol já se fazia sentir às oito horas, no entanto, os seus habitantes estavam longe de imaginar o que os esperava naquele dia 24 que ficaria marcado pela história de um trágico despertar...


Estávamos no ano de 79 e as ruas ainda estavam desertas devidos às festas da noite anterior em homenagem a Vulcano, o Deus do Fogo, que curiosamente viria a marcar ainda mais este acontecimento.

Naquela noite um leve tremor de terra fez balançar o vinho dentro dos cálices e o mar estava ainda mais agitado do que o normal, no entanto, nenhum desses sinais foi entendido como um sinal de perigo no meio de tanta algazarra.


O centro da cidade tinha uma parte mais antiga construída antes da colónia romana habitar esta cidade, e outra parte mais nova com duas ruas principais que cortavam a cidade nos sentidos norte-sul e Leste-Oeste e as 20 mil pessoas que faziam de Pompeia uma cidade com bastante população, viviam do comércio trazido pelos barcos estrangeiros, principalmente dos Fenícios que embarcavam na Baía de Nápoles, com um pouco de tudo, desde macacos africanos, canela da China, e escravos orientais famosos pelas suas técnicas sexuais.

Mas não só, ricos e pobres, viviam ainda do cultivo das terras, colhendo sobretudo grandes quantidades de trigo, uvas e azeitonas, que acreditavam terem saído de uma terra abençoada.

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Para eles, a fertilidade das terras era um presente dos Deuses e jamais desconfiaram que a qualidade deste solo se devia a antigas erupções vulcânicas do seu vizinho Vesúvio.


Passava um pouco mais das 10 horas quando um forte estrondo foi ouvido, seguido de um abalo. No horizonte, começou a formar-se uma densa nuvem preta que logo logo atingiu os 15 quilômetros de altura e se ergueu sobre a cidade aos seus pés.

A cerca de 30 quilômetros dali vivia Plinio, um velho cientista que estudava os fenômenos naturais, e sentiu uma enorme curiosidade em observar este de mais perto para poder tornar real os seus relatos.
Segundo ele, a sua última erupção tinha acontecido em 1800 A.C e não havia nada a temer.


Assim sendo, Plinio que assistia a tudo isto de longe, decidiu reunir uma pequena tripulação de nove homens e pôs-se a caminho de Pompeia.

A viagem tinha sido uma péssima ideia, pois, ao aproximar-se, as altas temperaturas faziam o barco desviar-se obrigando-o a ancorar na vizinha Estábia.


A 24 de Agosto de 79, Gaius Plinius, o seu sobrinho, ainda que convidado, decidiu não ir naquela embarcação com o seu tio e ficou em casa, em Miceno, sobreviveu e relatou todos os acontecimentos daquele dia e do dia seguinte enviando longas cartas ao historiador Tácito que mais tarde foram publicadas em livros.

Num pequeno enxerto podemos ler:


“O Vesúvio brilhava com enormes labaredas em muitos pontos e grandes colunas de fogo saíam dele, cuja intensidade fazia mais ostensivas as trevas noturnas. Podia-se ouvir os soluços das mulheres, o lamento das crianças e os gritos dos homens. Muitos clamavam pela ajuda dos deuses, mas muitos outros imaginavam que não havia mais deuses e que o Universo estava imerso numa eterna escuridão e ao final de 12 horas toda a cidade se encontrava agora soterrada sob cerca de 4 metros de rochas vulcânicas quando o pior aconteceu.

Em poucos minutos, a ensolarada manhã virou noite e a fumaça do Vesúvio bloqueou completamente o sol.
Impressionados com a drástica mudança de luz, e o ensurdecedor barulho que se fazia ouvir, o povo saiu à rua curioso com o espetáculo.


Só que, aquela nuvem negra não era apenas uma simples fumaça, junto com as cinzas o Vesúvio lançou toneladas de rochas a uma altura tão grande que elas só começaram a cair minutos depois, atingindo assim aqueles que se tinham exposto naquele instante.

E enquanto que uns eram gravemente atingidos por uma chuva de pedras e acúmulo de detritos, outros ficaram em casa a rezar para que todo este pesadelo terminasse em seguida.


O calor que se fazia sentir era de cortar a respiração e a angustia de todos aqueles habitantes que se viram encurralados entre o medo de fugir e o medo de ficar porque, de alguma maneira não tinham por onde escapar era desesperante.


À escuridão das sombras das nuvens de cinza, juntou-se o negrume da noite. Por isso, e porque não restassem muitas testemunhas no local, talvez ninguém tenha visto quando a parte mais letal da erupção se aproximou. Viajando a uma velocidade superior a 120 quilômetros por hora, uma avalanche de cinzas e rochas superquentes, com temperaturas que ultrapassavam os 500 graus, desceu sobre a cidade.

Mais de 300 esqueletos foram encontrados num abrigo de barcos, pois nem estes tinham sobrevivido devido à onda de calor que se fazia sentir, tendo uma morte instantânea.

O choque com a onda de calor fez com que os seus órgãos vitais ficassem paralisados mesmo antes de se darem conta do que estava a acontecer.


Mas isto não terminou por aqui, no dia seguinte formou-se uma nova nuvem de gazes tóxicos que acabou por matar aos que ainda se resistiam a tal acontecimento, mudando mais tarde de direção, em direção a Estábia.
Os moradores daquele lugar ainda tentaram atravessar a Baía, mas não tinham como e o sobrinho de Plinio, que se encontrava em Miceno, escreveu tudo o que pôde ver e apurar. Os seus relatos eram tão bizarros que foram considerados lendas até o século 18. Hoje em dia, sabemos que existem erupções vulcânicas como Plínio contou.


Não se sabem exatamente quantas pessoas morreram em Pompeia, Herculano, Estábia e redondezas, no entanto a recuperação de alguns dos corpos que hoje estão expostos quase intactos nos restos da cidade indicam que esse número tenha rondando entre as 2 mil e 4 mil vítimas.


Dois séculos depois poucas pessoas se lembravam desta cidade e uma nova tinha sido erguida com o nome de Civitá no mesmo local. E no ano de 1595, Pompeia foi descoberta novamente por um mero acaso entre os escombros durante a construção de um aqueduto.

As escavações só começaram em 1748, quando os especialistas perceberam que alguns dos corpos encontrados ainda pareciam conservar as suas expressões reais, estavam petrificados. Na realidade, os corpos que hoje podemos ver não são reais, são apenas moldes feitos através da decomposição das vítimas e dos espaços ocos entre as pedras encontrados em diversos pontos da cidade.

Os especialistas rechearam esse espaço com gesso, e assim conseguiram mostrar a posição de homens, mulheres, crianças e até animais mortos durante a erupção. 

Se tiverem a oportunidade de visitar esta “cidade fantasma” que se encontra a 25km da cidade de Nápoles vão com certeza ficar boquiabertos, seja com as imagens imaginárias ou com todo o entorno a estas escavações ao final de tanto tempo !!!
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